quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pausa:.

Pausa daqui, não das idéias.
Talvez eu volte com muitas delas, talvez poucas, mas boas. Talvez eu volte semana que vem ou na próxima madrugada. Quem sabe quinze dias, um semestre.
Provavelmente com mais foto e menos grafia.

Veremos

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Dó:.

Inventei de afinar o violão sem ajuda do aparelhinho, com uma videoaula da vida. O que consegui foi estourar a sexta corda.
Desisti de afinar as outras e fiz um móbile com o arame da corda frizada de aço.

E ficou bacana! :)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vendas nos olhos da cara:.

Terminou a reunião, o slogan pensado, o logo pronto, nossos projetos de mudança e recrutamento encaminhados.
Era hora de correr atrás de "Lucky Stars" que havia encontrado no Ebay. Encontrei várias tirinhas numa loja oriental no meio da cidade-garoa, perto da vinteetrêsdemaio, por onde corriam os carros e eu fotografava o contraste vermelho e cinza das grades e do chão lá de longe, só de olhar. A mocinha educada da loja me contou que essas estrelinhas de papel são um símbolo de "lhe desejo sorte", quando feitas e dadas de presente a alguém num pote de vidro, caixinha ou móbile.
Já era tarde e fazia frio mesmo ali, debaixo do meu cachecol e da chuva fina por cima do guarda-chuva, o guarda-chuva por cima de mim, debaixo daquele céu cinza esbranquiçado alagado dali.
Próximo ao metrô, pilhas de caixas eram largadas numa esquina, um canto empilhado de sacos pretos que espalhavam um cheiro horrível de comida podre na sarjeta que se mexia.
Mas calma lá, sarjeta não se mexe - Porra, é uma pessoa, meu deus, meu deus! - fui dizendo perplexa, baixinho e pra mim. O espanto acabara de me fazer soltar um raro palavrão. Só não censuro esse tipo de vocabulário quando fora de sério, o que é mais raro ainda seguido por 'meu deus!'. Que deus, que nada, que porra nenhuma, o que era aquilo no chão sujo? Eu quase vomitando nos pés de alguém que fingia passar despercebido enquanto uma gente de verdade, sem piada ou piedade, era gente, almoçava com as mãos cada resto insuportável sobre o plástico preto rasgado, transbordando o podre do, os restos de, o fim do, as sobras das. Não era o cachorro que hora ou outra arranjava um canil, um gato que logo se enfiava num pedaço de pano, num rolo de jornal, na piedade de um novo dono. Era a lucidez perdida, a dignidade castigada, a vergonha de mal sobreviver aos pés dos passantes, o absurdo nosso de cada dia.
Não aguentei o cheiro ruim, logo me apressei, olhando pra trás sem saber se era homem ou mulher a tal gente mergulhada naquela situação em que comia com a mesma voracidade - se não maior - que meu estômago se contorcia, o coração dava um nó, a cabeça parada sem querer acreditar. Bastou um chute da realidade pra sentir a mediocridade roer uns pedaços meus. Meu tênis novo desfilando a marca na guia onde outro se esvaía, meu almoço sem tempo no microondas de casa, minha vontade de tomar posto contra o erro, o desigual, sendo requintada a cada dia até o azedume chegar através do mofo cinza de um ser que nada mais era além de chão junto ao concreto.
Cheguei em casa contando estrelas, analisando minha sorte, contente por elas todas, angustiada aos breves encantos de metrô em qualquer pedaço de papel de bolso. Ao comentar o que vi, com meu pai, ouvi dizer sem muito pesar:
-Você tem que entender que existem lugares onde não se deve ir, coisas que não precisa ver isso. É o que acontece. Só isso que eu te digo.
-Não, pai, não é assim. A gente não vive e não pode aceitar que vivam isso. Não devem existir lugares assim, pessoas assim. E outra, a gente não dá valor, sabe, não sabe dar valor ao suficiente. Não é algo pra ser evitado, mas resolvido.

Medíocre e despercebido é aquele chão colado no sapato, os sãos e salvos, o som dos saltos altos. Até minhas estrelas quem sabe, tempo gasto em pequenas distrações. Mas ainda quero o que há de bonito nos sapatos meus e dos sãos e salvos, nos sons, dar meus saltos sem me importar de que altura.
Quero muito, mas não só pra mim, meu caro; sorrir sozinha é disfarçar a solidão.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Sugarcubes:.

Poucos andam devagar, levemente doces, por aí. Deve fazer tempo que não vejo alguém perder a pressa, mas não muito que acho a calma perdida rolando pelo meio-fio. Nesse meio tempo em que alguns perdem o rumo retomo o fôlego, parto para a próxima onda de uma energia nova, sem medo da água que cai com o temporal.
Nas tardes úmidas me refugio passo a passo em tiras de papel, tiro pacotinhos de chá do armário só pra escolher a cor que quero em mim. Onde quero calor, canela. Onde quero tranquilidade, erva doce, baunilha. Cada coisa que eu gosto lembra um gosto - todo lugar tem um gosto -, de mato, mar, sereno, chuva e fumaça de cigarro, chocolate ou carburador.
Mesmo que eu não goste do gosto que me vem, tenho a sensação do doce sutil embarcando no recorte das lembranças. Bem como cubos de açúcar, dos quais não uso mais. São bonitos de ver, de ter nas mãos tão pequenos, ter o gosto delicado que prefiro deixar ali no pote de vidro, enfeitando as cores de cada cor que estiver na estante.
É o bastante.

Sobre a Solidão:.

Trecho de "Sobre a Solidão" - Fernanda Young

Agora pode largar a minha mão. Pode partir.
Lembre-se ou esqueça-se de mim.
Coração quebrado tem cura: a paz de não precisar mais aguardar a perfeição que não existe.
Não estou mais agüentando.
A ansiedade –não mais aquela por bombons – poderá me estourar a veias. É o pior momento, esse, meio excitado, meio cansado, quando eu espero que campainhas toquem. Anunciando mudanças... e elas tocam, mas é somente um rapaz que me diz sobre uma encomenda ou um engano ou uma ligação familiar. Nada de mudanças. As mudanças, minha cara, só nas cores do cabelo, nas roupas e nos dias de regra mensal.
Não! Não queiram que eu acredite que tudo o que vivo será eterno, igualmente bom, para o resto dos meus dias. Não posso viver com o igual, não posso sobreviver ao certo, não quero morrer com certezas.
Então vá se foder! E estrague logo esse lindo!
Receio da confusão o estresse, do medo à apatia das impulsivas atitudes, mágoas. Escuto música as alturas, quero somente amortecer os erros. E mudar de idéia. Quem sabe o porque do quê?
O que você está falando, mulher? – Nada, nada... é só a vida enchendo o saco com surpresas. Queria ser do século XVII, arfar o peito e ajoelhar num confessionário de madeira de lei... e eu não entendo porra nenhuma de madeira, entendo de culpas. Mas é negra a solidão de quem escreve...
Na casa dos meus avós tinha móveis negros, não tenho mais ninguém para mexer gavetas e tomar coca cola pequena no gargalo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Verdade Virtual:.

Sorte de hoje: Cada homem é arquiteto de sua própria sorte

Choveu muito, o orkut finalmente havia deixado uma mensagem real.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Excessos:.

Ao nascer: não diz.
Aos dois: quase diz.
Aos cinco: por quê?
Aos sete: não controla o que diz.
Aos dez: mal controla o que diz.
Aos doze: diz meio a meio, tentando dizer.
Aos treze: diz a torto e a direito, tentando não dizer.
Aos catorze: diz o que pode.
Aos quinze: sabe o que dizer.
Aos dezesseis: diz o que sabe.
Aos dezoito: sabe, e diz.
Aos vinte: diz que não quer saber.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Surge:.

Já era tarde demais pra deixar de lado as listas de organização feitas na tarde anterior. Resolvi pensar dizendo, gravando, nas páginas restantes de um caderno velho o que passava por ali. Enquanto transferia a rotina ao real, me espalhava pelos cantos nas roupas fora do armário, na blusa que usei e depois de pendurar no cabide ficou desinteressante, contrária ao meu conceito mal formado de beleza onde não cabia tanto laranja. Cada peça apontava um traço e eu com o lápis, rasgávamos no final das primeiras páginas listras por onde pudessem passar os rabiscos, listras daquela camiseta manchada de dias ensolarados em luzes artificiais. O resto era frio, onde queria vermelho encontrava bege. Quis um amarelo que completasse a seqüência da aquarela, mas amarelo poucas vezes me caiu bem.

Assim que organizei metade, arrastando uns e outros cabides, um jeans aposentado caiu desdobrado no chão e logo agarrei pra evitar o pó dos pés, do tênis, recém chegados da rua. No bolso, alguma coisa querendo sair piscou pra mim; era laranja, o plástico da nota fiscal da lavanderia onde a calça ficara hospedada por causa de uma mancha, sem coisa fiscal nenhuma dentro, só uma nota de guardanapo, estampado pelo mesmo lugar onde a mancha foi feita: “Checou o horário e levantou. Deixou o copo sobre a mesa, chamou a moça, desolada. Lembrou das chaves, antes que atravessasse a porta de vidro. Olhou novamente, nos olhamos avessas à chuva. Sorriu pra mim e esqueceu o amor do lado de dentro com seu guarda-chuva, foi lavar a alma.”

Não fosse a letra, diria que o papel não era meu, até lembrar o episódio as gavetas estavam perfeitamente alinhadas. Demorou pouco até rever a moça e sua tristeza encantadora voltando à memória distante do café na mesa de madeira, pingando sobre a calça, quando me distraí pensando que as chaves seriam abandonadas, como sua expressão de solidão e, desastrada como de costume, sem querer empurrei a xícara. Voltou antes que eu terminasse de apontar a mesa ao lado, sorriu como se agradecesse certa de que deixara pra trás alguma coisa. Derreteu por trás do vidro turvo quando a porta se fechou. Tentei limpar a calça pintada de outra cor, destoando meus tons já sem graça. Logo veio o sol, de repente, e pude retomar meu caminho guardando o jeito tragicômico da moça no bolso da calça manchada, pra nos reencontrarmos por acaso num passado plastificado.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A verdade sobre pingüins:.

"Pingüim, nome comum de qualquer uma das diversas aves aquáticas não-voadoras do hemisfério sul, que recebem também o nome de pássaros-bobos [...] Na água do mar, estão sempre fazendo muito barulho e sempre reunidos em grupos numerosíssimos [...] São divertidos, simpáticos e curiosos..."

Pingüim vai, pingüim vem e após algum tempo de convivência com informações sobre eles, percebo que não são nada bobos, como alguns denominam. Sempre que vejo um - réplica ou real - a primeira palavra que me aparece é união (depois de 'que fofo!'), e logo em seguida penso automaticamente na simpatia e comportamento bonitinho que me remetem à uma amiga. Amiga essa que chamei de tal forma por pouco tempo. Em um ano já convivíamos o bastante pra encontrarmos um nome certo que traduzisse a adoção mútua; seríamos parentas. Vieram as conversas nonsense e também algumas sérias - coisa de instantes-tia da mesma geração -, a aproximação de mais amigos e o melhor café do planeta, entre tantas outras coisas boas. Isso durante oscilações de anos, tempo, fases, sorte. Sorte seria a definição certa do encontro de duas estranhas, cada uma em seu caminho, construindo bifurcações de felicidade entre tantos outros.Sei que tenho essa sorte por ter por perto pessoas amáveis, bons amigos, contados em estrelas ou, quem sabe, em alguns dias de um calendário.
Hoje é o dia dela. Que encontre e tenha a tal sorte, sem exceção, em assuntos que caibam no Universo.

Felicidades, Parenta.

Porque sorte é sincronia
e só.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Transferência:.

Com freqüência questiono, principalmente enquanto estou entretida por outras atividades. Questiono as informações, os livros, a nota no jornal, o que penso e acredito. E acredito em cada questão posta na mesa, enquanto tomo chá e observo as plantas ali mesmo, na sala de jantar. Meu objetivo com isso, até então, não existia... Até que cada olhar formou uma figura diferente.

É natural de cada um raciocinar, processar o que capta transferindo o todo ou as partes que deseja em conclusões. Não significa também que eu questiono procurando conclusões objetivas, isso acontece e é contínuo.

Tudo o que eu disse até agora é óbvio, mas não tão banal quanto parece.

Banais são os livros de auto-ajuda sendo destacados nas prateleiras de qualquer lugar onde um livro possa ser visto. A tal da auto-ajuda (como o nome já determina) deveria vir de você mesmo e não de alguém que nem sequer te conhece, dando coordenadas como se uma experiência própria fosse idêntica e repetitiva em qualquer situação. Não gosto de livros de auto-ajuda e quem mexe no queijo dos meus leprechauns sou eu. Acredito que bons escritores produzem best-sellers pelo enredo e de alguns deles eu gosto, até dos que não chegam a ter esse título.

O que eu tenho questionado ultimamente é o fato de não existir, no momento, ou eu ainda não ter encontrado um livro onde esteja expresso o que eu quero assistir. Parece bobagem, eu sei, e pode até ser, mas eu realmente gostaria de encontrar uma boa história que me acompanhasse durante dias, como os primeiros livros que li apenas por buscar conhecimento ou entretenimento.

Quero um livro pra ler aos poucos, transformando cada palavra num acontecimento particular, em determinado momento inexistente, que pode acontecer durante as páginas e mudar de formato quando eu desejar. Já tentei com os antigos e clássicos, com os pré-vestibulares, com os quadrinhos e os contemporâneos. Nenhum me propôs o que busco. Foi então que passei a pensar em escrever cada palavra que eu quero ler, formar meu próprio quadro linear e então ver se alguém se traduz no que digo.

Um dia transfiro alguns pensamentos a algum você, esperando que encontre neles uma história pra andar consigo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Sincronia:.

é sorte.
e só.