sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um passo à frente:.

Desacreditar não é uma forma de desprezo, é contestar o contexto, relevar o óbvio, procurar saídas menos urgentes.
Hoje eu revejo o que me leva às outras margens, junto ao apanhado de mudanças e deixo de lado qualquer pretensão. Expectativa se afasta do meu vocabulário diário, continuidade acompanha crescimento, uma palavra perto da outra pra não confundir continuar com relembrar. Esqueço um pouco de ontem quando acordo para que o espaço dado a novas idéias seja maior. Esqueço de sentir e direciono a atenção ao mais racional, desacredito como em uma das primeiras páscoas de que recordo, nas pegadas em direção aos ovos escondidos debaixo da cama, ignoro impressões, intuição, indiferente.
Indiferente ao dito sem filtro, as frases sem nexo, aos amores que não quero alegrias que dispenso distrações e apego.

Num dia enquanto ainda era madrugada abri as cortinas e o céu estava lilás, salmão, laranja. Apesar de não gostar de salmão ele continuava pintando as paredes da sala e sendo refletido em cada parte dos meus olhos. Parei de olhar naquela direção e, sabendo que a cor continuava ali, dei de ombros. Um tempo depois me flagrei admirando cada tom ao acaso.
É uma mudança de perspectiva, introspectiva talvez, objetiva. Um basta que o acaso há de amenizar, é certo.
Desacredito, desperto, me afasto do que está perto, centrada em possibilidades que dependeriam de mim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Evaporar:.

Debaixo do sol do ano recente
O tempo como apagador.
Lembranças são flocos de giz entre a neblina e o calor.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Desapego:.

Separei tantos papéis pra jogar fora que mal consigo lembrar de quando eram. Esvaziei as pastas restantes, os livros que não me interessam mais da estante, os relatos de dias que não sei quando aconteceram. Fui desfazendo os pedaços rasgados enquanto reconstruia a ordem dos títulos, revistas, retalhos de papel.
Encontrei uma folha de um bloco de anotações que usei no máximo quatro vezes e tive vontade de ver aquelas cores mais uma vez. A folha estava em branco, apesar de verde e azul. Procurei, abri caixas, pastas grandes e pequenas, fichários, arquivos de bagunça e nem um sinal dele.
Devo ter perdido em lugar qualquer há pelo menos cinco meses e só agora notei que ele não está mais aqui, não é mais meu.
Engraçado como uma situação assim, desimportante, me fez pensar em como perdemos coisas que um dia achamos importantes dentro de nós mesmos e acabamos percebendo muito tempo depois. Num desses você desperta, o amor não está mais ali, desconhece a letra nos bilhetes e o sentimento impresso neles.
Era apenas impressão, o amor esteve ausente e você se habituou a meras distrações. Resta a indiferença, sem verbo, sem cor, lhe dizendo que tanto faz.

Os olhos e as janelas:.

Foi engraçada a despedida, como se fôssemos velhos amigos que acabaram de se reencontrar, num trem, acenando através do vidro riscado de uma das janelas.

-Adeus!
-Até!
-Até logo..
-Até mais..
-Até breve!
-Tchau
-Tchau
-Que tenha sol amanhã!
-Esteja radiante!
-Dorme em paz
-Já é madrugada.

O trem partiu antes que ouvissem as últimas frases, mas entre novos velhos amigos sempre há compreensão.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Contramão:.

Recomeço:.

Foi dada a largada a mais um ano letivo.
Os novatos são tediosos, os novos tons pastéis não combinam, o verde é cor de musgo e todos os blocos do campus parecem menores.
O caminho de volta é mais curto, os abraços mais afastados. Os chocolates não têm mais aquele sabor.
Tudo parece mais fácil e menos desafiante, já me sinto em casa perto das mesmas árvores podadas.
Não vejo a hora de o outono chegar.
O recomeço já sei de cor que simplesmente não sei.

[Adia - Sarah McLachlan]

01:23

Eu digo por acreditar no que eu digo.
É sim, verdade.
Minhas verdades são a realidade de quem se dispuser a compreendê-las.
E sim, é simples.

Boa noite e até mais.

[I Saved the World Today - Annie Lennox]