quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ultimato

Desde quando adotei o nome Frasco para o blog, no início, soube que era algo temporário e, por mais indefinido que fosse o tempo de uso, sempre houve um prazo de validade, se não a última gota.

Antes que acabasse em mofo e abandono, venho pôr a tampa no frasco e guardar essas inquietações. Venho, sobretudo, porque hoje prefiro deixar qualquer exposição à serviço da fotografia, minha paixão maior.

Deixo estes relatos como são, fases e trechos de mim nos quais ainda me reconheço - o café forte, tal qual a intensidade dos acontecimentos -, nunca um livro aberto, mas talvez um bilhete engarrafado em alto mar, sem destinatário.


Um abraço sincero,

B.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sobre o fim

Desapareceu no instante em que eu fui sincera. Minha alegria não nasce pra ter efeito estandarte, é um acaso discreto, são meus olhos teimosos que delatam minha admiração.

E eu não diria aquela frase mal composta se não fosse verdade. Simplesmente saiu, como se fechasse a janela do quarto, onde antes eu atirava pedras para que abrisse.

Como se mantivesse a ausência da palavra que era necessária, esquivando-se da real vontade de um adeus, fosse esse o qual me arremessasse na costa de um inconformismo vindo da ressaca do mar de sentidos transpassados entre meus dedos, prendendo as linhas que poderiam ser escritas e devolvendo a rede enlaçada as ondas e a palavra ao vento.

Palavra, essa, que é o rastro do sentido que chega, vira a folha ao contrário, carrega o vento e desaparece na esquina do pensamento que acaba no instante em que começou.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fechado para balanço:.

A bagagem era pesada, as alças cederam, quase no fim. Além do que o vento arrastou pra longe, deixou cair o que devia ficar ali mesmo. Só vê a linha de chegada o que sempre esteve e se manteve próximo, de braços abertos e atentos ao que vier, nas pegadas um bilhete definindo o adeus.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Trovões:.

Um elo sem continuidade, como os arco-íris que nunca terminam.
Batem à porta e assim te acordam, assim devagar o estrondo da porta. Vagando sem saber por onde, largam as chaves dentro do cinzeiro,
lá onde tudo se deixa enferrujar.

Chegam sem despedida, _________ saem sem cumprimentar, sem bom dia,
simplesmente saem através das ruas, sem parar nas esquinas,

atravessando o sonoro eco ou ronco ou qualquer dissonancia.

rouco.

Entre o farol e o final que reverbera,
e o amarelo ao sol que segue a espera

Razão de ser:.

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

(Paulo Leminski)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Someday

"Life, you know, it's not something you can put on a jar and forget by the sidewalk. Though they may say or think many other things about you, but you have no jar anymore.

You're now free even of your own old thoughts.
You have learned that you can forget.

So this is it, son."

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sobreposição:.

Para ouvir ao som de Scenic World - Beirut

É de manhã cedo. O sol vai cobrir as janelas e eu quero estar prestes a ter certeza de que nunca é tarde.
É sempre de manhã cedo; abro as cortinas e recebo os primeiros raios de sol, eu abro um sorriso, preparo o café, me preparo de peito aberto ao sorriso que dura até à tarde.
É cedo, é tão cedo que não vejo a luz. Ainda é cedo, é cedo para vê-la.
Hoje eu espero mais um pouco ou pelo tempo que for.
Sempre amanhece e a luz sempre esteve ali, mas eu dormi por tanto tempo, olhei a oeste através dos óculos escuros, deixei os olhos entreabertos, mas não o suficiente - era medo da claridade que se aproximara.

Num piscar de olhos o sol a pino; entre o silêncio o sol se põe.
Como areia, guardo o calor. Como areia também escorre entre os dedos penso que
talvez seja tarde demais.