sexta-feira, 19 de junho de 2009

Meias verdades:.

Minha inspiração chegou anteontem, enquanto eu te esquecia. Por te esquecer, me dei um bônus: fiz um pedido quando o horário no relógio coincidiu. Escrevi e carreguei a caneta usada nos bolsos através do dia, o papel envelheceu, amassado nos bolsos.
Já passava das três, o sol já havia saído da sala, tão rápido quanto a velocidade em que nossas imagens desapareciam do quadro de recados, de tudo o que eu pensei. Três da manhã, a sala vazia, os retalhos de uma pequena história amontoados no canto do tapete. O canto quadrado é a parte que prefiro pisar toda vez que entro ali. É o lugar de encaixe dos meus sapatos, quando não o travesseiro das anotações mais importantes que espalho ao arrumar.
Lembra de quando perguntei se aquele sentimento era comparável àquele quadrado e não obtive resposta? Quem cala realmente consente, hoje sei que seu ego era maior do que aquele quadrado. Maior do que nós, inclusive.
Em poucos segundos eu destruí a beleza de um par, reparando os entalhes deixados dentro do meu peito, que não se enquadrava mais em carregar nossa foto que você não quis tirar, com a realidade sépia do que ali restara.
Fiquei ali, ao todo, me expandindo no frio pelo piso da sala, com o coração colado com o cuspe que atirei nos restos de papéis. Vi seus passos saindo do meu pequeno território, se afastando do meu cubo, acorrentando o enorme egocentrismo por hora não machucar mais ninguém. Afinal, não era essa a sua real intenção quando disse que de nada valia toda aquela atenção doada. Sua intenção é visível, é fazer sua história carregando consigo as dores e o dissabor das marcas que provocou, depois pedir desculpas e continuar amarelando as folhas guardadas do roteiro.
Tirei a caneta e o papel dos bolsos, risquei o pedido de que você voltasse. Cortei junto com cartas e um trevo de quatro folhas que me enviou. Minha inspiração havia chegado, emplaquei numa tela, envernizei nossa época e chamei de época pra que a distância se transformasse em abismo.
E por fim descontei nossa história, empalideci.

Que bom você ter ligado e me acordado a essa altura da madrugada, esqueci de lhe agradecer pelo trevo de quatro folhas que ficou dentro do envelope.

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