sexta-feira, 30 de julho de 2010

Das Cartas a Ninguém:.

Ontem comecei a me desintoxicar, mentalmente.
Às quatro da tarde, tomando café, escrevi tudo o que já nos aconteceu ou aconteceria num bloco de papel. Gastei quase metade dele, senti muito pelas árvores, reli e joguei fora, amassado e completamente anônimo. Não quero que saibam dessa estória que nunca existiu.

Quando anoiteceu, após o jantar, senti uma dorzinha de cabeça e me concentrei em coisas boas, lá veio você surgir num pensamento e eu fui beber água. A dor de cabeça aumentou, agressiva, a tevê na sala me incomodava, coloquei uma blusa velha – que me trouxe lembranças -, deitei na cama arrumada e ali fiquei até o telefone tocar, era cedo, muito cedo ainda e eu não quis atendê-lo. Alguém me deu um Tylenol e um copo d’água, estavam no criado-mudo quando despertei as dez e voltei ao sono.

Acordei suando de madrugada, às três, com sede e assustada. Sonhei que você se despedia dizendo que ia para Israel. Mais uma vez. Tenho sonhado há uma semana, dia sim dia não. Tonta e febril esperei passar a sensação de ter lhe visto, tomei três copos de água bem gelada e demorei até cair no sono. Perdi a manhã inteira, acordei com um restinho da dor aguda que logo desapareceu.

Espero que esteja bem e não pense literalmente em Israel, seja lá o que isso quer dizer mesmo em um sonho. Não estarei mais presente, mesmo distante na sua vida, como no fundo de uma platéia, como cartas a ninguém.

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