quarta-feira, 22 de setembro de 2010

res(sem)sentimento:.

Para ler ao som de Strawberry Fields Forever


Amanhã - hoje -, eu vou jurar que não foi culpa do café, que a insônia é só minha e que devem deixar o pote de vidro repleto do instantâneo no lugar. A ausência do sono, do pensamento, das resoluções.

A ausência toda é só minha, agora, já que tudo que pode ser amado pode se perder no tempo, em minutos de macarrão instantâneo. Do agosto só sobrou o ácido da perda corroendo os nossos planos, o sabor amargo é do café, eu sei. Setembro chegou e eu nem percebi, vou despertar quando já tiver ido embora, quando amanhã for primavera e quando formos cuidar do jardim. "wake me up when september ends", entende?
Continuo respirando fundo e contando até dez, esperando no relógio os ponteiros se encontrarem, pra ver se eu me encontro no meio do que sobrou de nós além das fotos na sala, das lembranças, das piadinhas internas e daquela certeza embaçada que eu quase tive de que tudo ia dar certo dali adiante. Pra ver como é que o conformismo se instala e acalma essa espera de pensar que entre um tique-taque e outro o telefone vai tocar e do outro lado da linha não vou ouvir parente banco estranhos gente e mais gente perguntando o que eu já cansei de dizer. Eu já nem atendo mais, finjo que saí, é, desculpa.

Os dias seguem, apesar de setembro, nós continuamos cuidando do jardim. Plantei uma árvore - um pé de morango, vale né? -, que é pra lembrar de quando tocava aquela ou qualquer outra dos Beatles e ele cantava comigo, depois me contava sobre os amigos que foram a Woodstock e voltaram pirados enquanto ele se formava na Pensilvania, dizia num tom moralista que eu não devia ir a shows pra gostar de música, medo de que eu 'pirasse numas', 'despirocasse' - eram exatamente esses termos que ele usava -, eu sorria, dizia que nunca, ele falava sobre o que lembrava, pra eu nunca esquecer dele, eu prometendo sempre que ainda tinha muito tempo pela frente pra construirmos as lembranças, pedindo pra afastar o cinzeiro, tossindo e reclamando da fumaça, ele apagava o cigarro, até o seguinte. Até o fim. A nossa cumplicidade vencida pela cumplicidade de um vício imbecil, cor pulmonale.

Faz um mês, os dias vão correr aos anos. Tento preencher o vazio lembrando de cada detalhe.
Teve uma filha que adorava ler o que ele escrevia, plantou várias árvores, viu crescer. Nunca esqueci, nunca vou esquecer. Nunca mais a espera de pensar que entre um tique-taque e outro o telefone vai tocar e do outro lado da linha vou ouvir a voz firme ganhar doçura e dizer "Bu?".

Um comentário:

Regiane Jodas disse...

=/ eu espero que um dia isso tudo pelo menos amenize dentro desse coraçãozinho ai....
Domigo eu te quebro de abraçar!
Bjo!