O grip das raquetes é grande demais, mas o da câmera pareceu perfeito pra mim.

Acordada não consigo concentrar.
Aparece uma distração e pronto, estou trabalhando pelo menos três coisas ao mesmo tempo, ouvindo repetidamente a mesma música enquanto respondo exercícios de apostila e pensando nos prazos de entrega de projetos que nem pensei em como "começar a terminar".
Tento dormir e as idéias vêm todas de uma vez, uma mais bonita que a outra. Levanto, pego a caneta, e as palavras certas desaparecem num flash. A gente devia poder fotografar pensamentos, ou ter uma caixinha deles... Uma caixinha com letras gravadas em découpage, sépia por fora e colorida por dentro. Recheada de tiras de papel com as frases exatas, o coelho na cartola. Entretanto, meu coelho aparece sem precisar cartola nenhuma e insiste em ser como o da Alice, "é tarde, ai ai meu deus, é tarde, é tarde, é tarde!", meus pedaços de frases são iguais àqueles bonecos recortados que ficam juntos pelos bracinhos, uma puxa a outra, um assunto distrai mais um.
Depois de algumas horas viro Alice, tentando espiar pelo buraco da fechadura meu foco e lá vem a enxurrada de neurônios me arrastar. Conto os desaniversários, com as garrafas de chá, água e uma xícara de café ao alcance, intercalando os sabores, distraindo até o paladar.
Quando percebo já é amanhã - ou hoje se preferir. Meu relógio biológico já virou químico, desmaterializou no horário de verão.
Amanhece o dia e eu apenas permaneço no registro das idéias que tive e quase escaparam, nos livros, nas olheiras à chapeleiro maluco.
Ainda sensibilizada pelo drama “Antes de Partir”, decidi pôr uns comentários aqui.
Achei o roteiro um tanto previsível, a mensagem comum, os personagens um pouco menos detalhados do que eu esperava... Porém, se Justin Zackham o escreveu tendo como objetivo, além do entretenimento, fazer refletir, valorizar, pensar um pouquinho, nem que por um segundo, numa sala de cinema escura ou mesmo na poltrona, o fez com precisão.
“The Bucket List”, nome original, segue a linha fictícia da maioria dos filmes enquanto propõe pausas de questionamento existencial, válidas a qualquer que se permita uma pequena avaliação. Nos pontos fantasiosos ficam os acontecimentos premeditados com suas conseqüências não menos esperadas, estes que na lista inicial do Carter (Morgan Freeman) são até, eu diria, pedestres freqüentes de quem assiste. O lugar pra se perder – ou melhor, pra se encontrar – fica por conta da pergunta clara e de bom slogan: você já encontrou sua felicidade? Que, dependendo da opinião de cada, abre um leque de possibilidades de uma simplicidade mirabolante (contraditória sim, por que não?), rondando entre o que você poderia fazer pra perceber que sua busca só termina no instante em que percebe a presença do que procura numa linha de tempo constante que só é vista com um esforço a mais e a preocupação em encontrar o seu algo.
Já o bônus do dvd, um clipe com a música do trecho postado ali, só estabelece ainda mais a ligação entre necessidade e busca do quase irremediável vazio dos cantos, rotina afora. “Say what you have to say" – and get your peace, your anything.
Agora, com os olhos já secos e menos rudolph-rena-de-nariz-vermelho, paro por aqui, revisando e extraindo aos poucos um pouco de tudo que vi.