terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Hoje:.

Encontrei uma caixa velha que guardava poeira em bolinhas de tênis, raquetes velhas, pés de pato e um álbum. No fundo disso tudo tinha uma câmera, nova.
O grip das raquetes é grande demais, mas o da câmera pareceu perfeito pra mim.


sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Seguinte:.

Fração distraída
partida em mil esmos.
Função de saída
partindo em milésimos;

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mais do Mesmo:.

Despertar com o sol, ouvir o primeiro barulho nas árvores, o último poste dormir, o chiado, os cheiros, o chão.
A rua, a roupa, calçada, calçado, fone de ouvido, chaves na mão.
Ver virar noite e revirar o dia, ser ontem e hoje sem pausa, o chá, o som, bege.

Cada segundinho em que eu me retiro é retrato, tratando com cuidado as plantas na janela.
Trago outro início, sem fim por hoje, saída de qualquer rua.

Mais do mesmo, mais bonito. Gosto e desgosto da claridade.

Nuvens:.

O peso das pálpebras é pouco apesar dos minutos,
pequenos pesares.
Leveza em livrar o espaço passado, deixando as passagens
soprarem aos ares.

Direção:.

Um mundo encaminhado ao centro de um cruzamento.
Não encontrando a mão,
de antemão, invento.


E boas festas!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Mar:.

Calma.
Pela primeira vez, em meses, tenho tempo pra nada. Nada de pressa, compromisso em maratona, prazo imediato, véspera da espera por um e outro resultados.

Não chega a ser por finais de ano ou coisa parecida. Meu olhar fica através da continuidade.

Ao final da contagem regressiva nenhum dos fogos de artifício explodem a pessoa e paf, cai um pacotinho de gente nova sortida na frente.

A beleza desse bombardeio festivo que ronda esse fim de prazo é o recesso, o tempo, os cinco minutinhos antes de levantar da cama, abrir a janela e decidir se vai achar ruim o calor do dia de sol ou deixar a casa sorrir junto do tempo.

É o começo pra reavaliar o modo em que cada passo é posto em prática. A diferença é que é lançado em massa, mas nada que impeça qualquer um de pôr vírgulas e pontinhos onde bem quiser.


Afinal, em qual feriado, mesmo que prolongado, dá pra inventar fettuccine com brócolis as três da manhã ou tirar o dia para fazer estrelas de papel enquanto assiste os filmes prediletos e planeja resultados importantes?

sábado, 29 de novembro de 2008

Play for mosquitos:.

Cada vez que a Sheryl grita "If it makes youu happyyy, it can't be that ba-aa-ad.." meu humor fica melhor ainda!
:D


http://www.4shared.com/file/15207929/5b4cd557/Sheryl_Crowe_-_If_It_Makes_You_Happy.html?s=1

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Rejection Junkie:.

Não, não é a música da Wonkavision..

É culpa, de mãos atadas.
Tão ruim quanto rejeitar alguém, com o maior número de eufemismos contidos nas frases, e ver todo um mar de coisas boas virar mágoa e afogar os olhos da pessoa é ser rejeitado.
Prefiro nenhuma opção, mas todo mundo sabe como essas duas são. Hora ou outra elas aparecem, desagradáveis.
No final você lida com isso e perde um tanto de credibilidade sentimental.

Hoje tive que escolher a primeira.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Só:.

Talvez seja eu
Que estou cansada desse bairro, esse lugar
Das mesmas ruas que cansei de caminhar
Sem encontrar saída

[Ludov - Escarcéu]

terça-feira, 18 de novembro de 2008

One way or another:.




I'm gonna find ya, I'm gonna getcha, I'll getcha, I'll getcha getcha..

Janis Joplin:.

Era um doce... Humor um pouco ácido, mas quem se importa?

-get the joke-

Ouvindo Take Another Litle Piece Of My Heart

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Disposição:.

Coisa de cinco minutos atrás.

Voltando pra casa, olhando as árvoros, os chão, os passacarro...
Ouço um barulho muito do capeta vindo lá do final da rua ♪e agoora a velosiadaje é catro, coé coé vambora, cre-e-e-e-e-e-el♪ saindo de um carro que corria no meio das duas faixas e pensei: nóis vai lonje.

Virando a esquina vejo um mini-humano, de azulzinho todo fofo com a mãe ao lado dizendo ♪trrrrrrrrrr tem que tê a-bilidath agsfsd velocidade umm é crél créeu creéé.. Ô mãe, por que você não compa.. compra um, um de-ve-dê dssa músicaí? é creeel♪ e pensei:

-

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Eufemismo:.

Oito horas de sono, menos café, mais água, mais calma, menos correrias, mais corridas, menos quilos, menor ansiedade e uma Reflex.

É metade do que eu to conseguindo.
Novembros são cansativos.
Fato.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Consistência:.

É esse barulhinho, a motivação.
Esse sentimento tiquetaqueando como se cronometrasse a hora certa desde as primeiras palavras pensadas, desde longe longe.
É a reação involuntária, que eu tento distrair e quando volta é maior.

A certeza pulsa como nunca e a hora exata se aproxima, resgatando e reciclando as palavras daqueles papéis do clip plástico.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sorte de hoje:.

: Generosidade e perfeição são seus eternos objetivos.

Eternos?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Pausa pra café:.

" I have dreams of orca whales and owls [rabisco mal vetorizado]
but I wake up in fear
You will never be my,
You'll never be my dear, dear friend".


Acordada não consigo concentrar.

Aparece uma distração e pronto, estou trabalhando pelo menos três coisas ao mesmo tempo, ouvindo repetidamente a mesma música enquanto respondo exercícios de apostila e pensando nos prazos de entrega de projetos que nem pensei em como "começar a terminar".

Tento dormir e as idéias vêm todas de uma vez, uma mais bonita que a outra. Levanto, pego a caneta, e as palavras certas desaparecem num flash. A gente devia poder fotografar pensamentos, ou ter uma caixinha deles... Uma caixinha com letras gravadas em découpage, sépia por fora e colorida por dentro. Recheada de tiras de papel com as frases exatas, o coelho na cartola. Entretanto, meu coelho aparece sem precisar cartola nenhuma e insiste em ser como o da Alice, "é tarde, ai ai meu deus, é tarde, é tarde, é tarde!", meus pedaços de frases são iguais àqueles bonecos recortados que ficam juntos pelos bracinhos, uma puxa a outra, um assunto distrai mais um.

Depois de algumas horas viro Alice, tentando espiar pelo buraco da fechadura meu foco e lá vem a enxurrada de neurônios me arrastar. Conto os desaniversários, com as garrafas de chá, água e uma xícara de café ao alcance, intercalando os sabores, distraindo até o paladar.

Quando percebo já é amanhã - ou hoje se preferir. Meu relógio biológico já virou químico, desmaterializou no horário de verão.
Amanhece o dia e eu apenas permaneço no registro das idéias que tive e quase escaparam, nos livros, nas olheiras à chapeleiro maluco.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mão dupla:.

Alguém ativou a máquina de escrever, “rebobinou”, como gostava de chamar o movimento da parte barulhenta que antecedia cada letrinha estridente pronta para estampar aqueles gestos empoeirados e densos como suas teclas e ela. Queria saber dizer o suficiente através de poucas palavras no fundo de ferro verde-musgo e entre o pontilhado entre uma folha e outra, por onde respirava durante as pausas, tomando chá, verde e claro.
Voltou a alavanca de parágrafos, pensando no som alto que faria se não estivesse tocando devagar a tela sensível que mais parecia um desenho estampado atrás do acrílico; pensando que talvez não pudesse escrever ali sem acordar ninguém, se quisesse passar o que era ao tátil.
No fim da linha percebeu que o que sentia sem falar não poderia ser tocado em silêncio, mesmo sendo, essa ausência de vias, expressa de qualquer maneira, tátil, espiando e esvaindo pela porta, retrátil.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

'Pra sonhar:.

e perceber
que a estrada vai além do que se vê"

domingo, 5 de outubro de 2008

Conjugação da Ausente:.

Playlist de domingo, cento e trinta e poucas músicas com o shuffle ativo.
Coloquei também na lista, uma coletânea do Vinícius de Moraes, que baixei pra conhecer melhor, pensando que só tinha música ali, apesar de saber de toda a poesia dos livros - inclusive indico esse à quem gosta de Vinícius e conhece ou mesmo à quem não conhece, mas tem interesse.

Querendo saber o que aconteceu, siga os links logo ali, mas só aperte o play quando estiver numa lista com todos os downloads na ordem.

Depois da Janta, um silêncio estranho e a lista continuava sem pausas.
Devagar e baixo ouvi o barulhinho bonito romper a dúvida.
Prestei atenção como se lesse um livro, ou conversasse. Então, antes que eu pudesse repetir e entender melhor, ouvi isso.
E compreendi.


Conjugação da Ausente
(se quiser acompanhar o barulhinho bonito)

Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...
Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Naquela estação:.

"Importa você estar lá. Importa, quero dizer, no que escrevo agora, no que imagino, e não sei ainda direito o que é.

...

E por se tratar de uma estação, deve haver um trem que não chega, não passa nem parte. O que passa é apenas o tempo. Sei que passa não porque a luz se modifique ou aconteça alguma coisa, mas pelos seus pequenos movimentos, um passo, um braço, que revelam ansiedade e espera. O que se pode fazer numa situação como essa — mesmo para mim, que deveria ser o dono dela, mas me recuso — a não ser esperar? Esperamos, todos. O que está lá, o que conta sobre isso e os que lêem sobre isso. Esperamos então. Horas, dias, meses, anos e anos. Ninguém sabe o quanto.

...

E voltar a ela como quem volta a chamar um número de telefone eternamente ocupado, só para constatar que continua ocupado e apenas para ter a sensação de não desistir."

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

tempo:.

Pousa em mim, a pausa.
E me faz descansar, no descaso.



A casa de madeira na praia espera minha volta, rodeando as palmeirinhas do jardim. O pé de limão morreu, disseram. A maresia comeu os portões e as cadeiras ainda estão no mesmo lugar, do tricilo quebrado. Tinha pica-pau, ninho de andorinha, ali mesmo no mato atrás do quintal. O outro espaço virou pousada, disseram. A freguesia levou o sossego, mas aquela árvore continua no mesmo lugar, do poste que os mosquitos engraçados sobrevoavam.
Um dia desses, vai que eu resolva voltar, atravessar a rua e sujar os pés na areia quase transparente pra me atirar na beira.
À deriva, do velho novo medo de (a)mar.




domingo, 21 de setembro de 2008

Cazuza:.

"Li uma vez que você vive não sei quantas mil horas e pode resumir tudo de bom em apenas cinco minutos. O resto é apenas o dia-a-dia.
Um olhar, uma lágrima que cai, um abraço... Isso é muito pouco na vida. Então, isso vale mais que tudo para mim.
Prefiro não acreditar no Day After, no fim do mundo, no apocalipse. "

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Lento:.

surge
cresce
diminui
passa
e fim?
um
só.

hiato.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Reciclando:.

O lixo e a vida.

O que tem valor e importância, fica.
O que não tem, dá tchau logo.

Nada de deixar estar, não mais.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Overloaded:.

"...é, mas sabe quando a gente cria força pra tomar posição, resolvendo algumas situações, e no final das contas acaba amadurecendo uns cinco anos em cinco dias?..."

"..nnnão..?"

"tenho que ir agora."

eu que mal me sentia aos dezesseis, funciono agora à bases prioritárias.
responsabilidades. comunicação. monografia. trabalhos. preocupações. concentração. hospitais. família. cuidados. negligência empresarial. burocracia. resolução. fóruns. transporte público. educação. paciência. suporte. meios. livros. decidir. pesquisar. programar. projetar.
na sobra de tempo durmo, nos intervalos respiro, pela necessidade como, pelos caprichos envaideço, nas chamadas perdidas viro pedra, esforços de um novo alicerce.

ainda sinto.
ainda bem.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

de Soslaio:.

Cedo minha perda de memória ao dicionário.

Desde segunda-feira essa palavra só sabe me atormentar e me acordar no meio da noite, me distrair durante as aulas, tropeça em mim enquanto caminho rápido. Não há idéia que não seja interrompida por ela, não há letreiro de onde ela não pule.
Quando surgiu a idéia, num segundo atordoado, de decifrar o que ela representava, não imaginei que ficaria assim, estampada nos meus óculos escuros, condensada no vapor do espelho.

Fosse “amor” a palavra, fosse “intensidade”, tal qual “aspas”, eu poderia resolver de uma vez por todas essa questão involuntária.

A princípio quis saber de onde ela veio, porque chegou a mim, porque ficou ali, se era subconsciente, se minha consciência era a mais leve.

Tem definição, e eu, preguiça de descobrir. Lembrei “só”, lembrei “solidão”, sol, s.o.s, lado, matemática e guarda-chuvas; não passei nem por perto do ponto de chegada do mapa na garrafa atirada ao mar: minha testa.

Cansei, enquanto andava horas entre o calor e os sons afetando e desviando o que eu pensava em pensar.
Abstraí, calculei, procurei;

Adv. De soslaio Obliquamente, de esguelha.
Esguelha - Obliquamente
Entre os passeios descobri o verbo “entrelinhar”. Por sorte não é preciso seu uso, no mais.

Chegando ao final, a palavra se resume em um olhar de lado, indireto, quase entrelinhado.
Conclusão?

Nula.

E lá vem o tempo, “de soslaio” me chamar atenção de novo.
Cotidiano.
Trocadilho.
Clareira.
Palavras aleatórias. Prozac?

domingo, 7 de setembro de 2008

Permissão:.

Tênis, calça jeans e camiseta. Uma bicicleta, óculos escuros, dez reais e um celular com pouco crédito.
Eu era tudo o que eu tinha quando, depois de encher a cara de sorvete passas ao rum resolvi ir embora. Quis sair, não fugir, nem pra sempre. Só quis me ver livre das paredes, do bege da casa, já não bastassem minhas camisas cáqui. Querendo me ver livre, soube que apenas isso, mais nada, poderia me completar. Disseram pra eu voltar antes de anoitecer, pra tomar cuidado, não sair do bairro... Em vão.


Fui sem olhar pra qualquer relógio, acelerando e tomando a rua, queria a cidade só pra mim, assistindo as nuvens ameaçarem passeata de chuva, não me importei. Fui sem saber pra onde, só não queria voltar atrás, também não iria ficar ali. A ventania me inspirou coragem, fui encontrar as vias expressas da cidade. Primeiro o centro, lugar mais próximo; lembrei da tranqüilidade dos domingos na praça da matriz, com árvores de outono, simpáticas, que gosto de ver e, ao chegar lá, me deparei com um comício político-evangélico na frente da igreja católica, onde puseram um palco mal feito na grama com pessoas fazendo onomatopéia e rap, junto a vários cavalos, e seus estercos, e seus olhinhos tristes, e suas cordas, e seus donos, e meia dúzia de gente ignorante cercada de viaturas municipais, abanando as mãos como numa reunião primitiva. Só faltou o mamute destroçado no meio do passeio público.

Eu ri.

Mentira, não ri. Eu quase entrei em pânico, afinal, como no meu domingo, meu dia de cidade vazia, invadiram o lugar bonito de passar pra fazer algazarra?
Se for assim, melhor procurar outro lugar. Pensei um pouco, as lojas fechadas, aquelas pessoas... Fui me atirar na avenida lateral, Faria Lima, sem trólebus, sem ônibus, só alguns carros e, por alguns instantes, eu fui feliz acelerando os pedais.
Por um quarteirão, pra ser mais exato. Chegando à esquina cores me tomaram. Música bate-estaca, balões coloridos, meia rua fechada, meia dúzia de gente fingindo que tava dançando e arrasando, outra metade olhando em volta. Era a parada gay de São Bernardo. E eu nem sabia que tinha parada aqui, muito menos hoje. Vendo duas meninas paradas, parei a bicicleta e perguntei até que horas duraria. Uma delas me olhou, os olhos encharcados, o lápis borrado, aparelho nos dentes, devia ser mais nova do que eu. Fez sinal de quem não sabia, enquanto continuava desolada reclamando “dela”, com a amiga. Coitada. Tive vontade de conversar, dizer que as coisas não são assim, que tudo passa e todas as outras coisas que a gente sabe que é verdade, mas nessas horas não dá nem pra tentar acreditar. Deixei pra lá, a menina imatura, a literalmente Parada, o trio elétrico de três caras com sunga de oncinha e meias, o mundo.

Eu ainda tinha dez reais, um celular, uma bicicleta. Eu ainda me tinha, ainda bem. Resolvi atravessar a cidade, segui em frente na avenida sem fluxo. Passei pelas calçadas pequenas do Paço municipal, fiquei dando voltas e mais voltas no lugar onde, entre tombos e traumas, aprendi a andar numa bike de rodinhas, rememorando os dias.
Ultrapassei o semáforo, os carros, me deixando levar, caindo na Vergueiro. Tinha dez reais e o único lugar onde poderia encontrar um fone de ouvido que já estava precisando havia uma semana em pleno domingo, era o supermercado em Rudge Ramos. Nunca tinha me atrevido a pedalar tão longe do Jardim, o dia logo ia embora, mas eu queria. Eu queria me sentir livre, e melhor, e inventar uma situação onde eu estivesse sozinha no meio do mundo. E estive. Fui pelo meio do concreto, aquele lugar que seus pais dizem que é perigoso andar, sabe? Exatamente ali. Entre a ida e vinda de todos, eu me via fazendo sentido algum, em busca de simplesmente nada, achando tudo muito engraçado e improvável. Os rastros de esterco estavam pela cidade toda, inclusive na faixa de pedestres da entrada do supermercado.
Já no estacionamento, me aproximei do bicicletário. Eu, minhas três coisas e nenhum cadeado. Ia arriscar e fingir, com alguma das correntes, que tinha amarrado a magrela ali, pronto, iria, compraria, voltaria, tudo no mesmo pretérito. Tudo muito rápido. Fui olhando todos os cantos, disfarçando, quando três garotos pararam e eu resolvi perguntar se seria perigoso deixar ali, sem nada. Eles ofereceram o cabo de aço com o qual prendiam as três bicicletas, dizendo que uma a mais não faria diferença.
Também não demorariam lá dentro, era só um sorvete e poderiam me acompanhar.
Quanta gentileza.
Fomos conversando, comprei o fone, ajudamos uma velhinha a guardar as compras no carrinho e, ao voltar ao estacionamento, a trava de segurança, com as quatro bicicletas dentro, havia estourado quando colocaram a chave. Éramos quatro desesperados, agora. Vi um chaveiro. Um dos garotos, dono da trava, disse que já tinha problemas com aquilo algumas vezes, mas que o miolo do cadeado nunca tinha se esfarelado daquele jeito, ali. Corri até o chaveiro, um moço educado, que, com um alicate do tamanho da roda presa, cortou e abriu a corrente. Libertamos as pequenas, senti culpa pelo cadeado do menino, perguntei se ele queria outro, se eu poderia fazer alguma coisa. Ele disse que tinha outros, que eu poderia ir que a gente se vê de bike por aí. Eu disse “ah, então valeu, obrigada”, e vim embora, antes de virar abóbora, meu fone na sacola, sem dinheiro, sem pânico, no meio da avenida sem carros, com sede, eu não beberia o celular, parecia que ia começar a chover.

Eu corria, pedalava com força, conforme a velocidade aumentava mais minhas pernas doíam. Parava os pedais, vendo o concreto correndo debaixo de mim. O vento, o vento. Perdendo tudo de vista, pensando longe, passando perto da guia, sem direção, exatamente como um eremita faria. Pensei tanto que quando me vi estava de volta ao Paço, próxima ao bairro. Via mais gente, os casais nos bancos, menininhas novas com garrafas de smirnof, rindo em grupos ao lado da guarita municipal. Adolescentes, imaturos, com cabelos coloridos, angustiados, reclamando em palavrões e gírias tudo o que achavam injusto. Passei por todos os lugares de antes, dessa vez mais cansada. Desviei a rota de volta até a subida mais alta e soltei as mãos lá do alto, sentindo o perigo dos carros prestes a receberem o sinal verde e, talvez, me engolirem no meio do cruzamento. Mesmo assim fui sentindo todo o gosto da incerteza do que nunca tinha feito. Cansada de não arriscar porque diriam algo, isso, aquilo. Tive sede de chuva, ganhei nuvens e o sol já ia se pondo. Atravessei outros quarteirões, cheguei ao portão com a cara mais lavada. Quando perguntaram onde eu tinha ido, respondi com uma risada imperdoável: “Longe.”.

Lembrei de uma promessa que me fiz, de fazer com que tivesse um ano de uma rotina inusitada.
Aqui estou sendo fiel comigo, com tudo, contudo.

Quando foi a última vez que você se deixou ser?
Agora pensa e responde, não pra mim.

E que a semana seja doce.

sábado, 6 de setembro de 2008

Exatamente:.

E toda essa fragilidade, toda a delicadeza e essa transparência são reais enquanto eu puder continuar, assim, diamante.

Jealousy, turning saints into the sea
Swimming through sick lullabies
Choking on your alibis
But it's just the price I pay
Destiny is calling me
Open up my eager eyes
'Cause I'm Mr. Brightside

Killers, the

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Tão:.

Num vão bem pequeno entre o ar e o próprio fôlego não sentia respirar, não era incômodo até então.
Quis sentir, sem querer. E sem querer permitir, saiu sem saber se em vão ou se não. As cores haviam voltado, já acima da água. Bocejou por dias, como se acostumasse o marasmo num ritmo leve, lento, tentou, disse "então tento". E sem querer admitir, saiu sabendo as cores de cor, pés nos trilhos. Saiu do mar, deixou-se levar, pulando ondinhas, vivendo da maré apesar de a maré estar sob seu nuance. Por alguns segundos tocou a beira d'água morna, chiando o silêncio, mandando calar
- shh, agora acalma.
Parou, sonolenta, ganhou um soneto da estrela e um ingresso de estrada, enquanto irradiava olhos afora o que pretendia dizer.
Acalmou
- shh, agora à alma.
Olhos brilhantes, voltados àquele mar, refletindo à margem de outro mergulho, o tão cedo. Tão cedo ao lado passional, era pretensão dizer "sinto muito". Sentia demais, no cabimento de ser uma terceira pessoa naquele enca(o)nto.
Entrou na garrafa térmica e se lançou de uma vez só, sempre na ponta dos pés, querendo ainda continuar sendo a página do livro, do conto, do encanto, dos nuances, vivendo a maré apesar de a maré estar a seu alcance, nas sílabas iguais.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Costume:.

Eles vêm e dizem:
-Ei, você, mantenha o pé no chão.

Prefiro minhas meias.
E por que não?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sabiá:.

Passarinho vem e avisa: quatro da manhã. Nem precisa levantar, mas são quatro da manhã.
Canta, assovia solto na pitangueira perto da janela.
Canta, assovia leve quando ainda é abafado, sereno, os postes acesos.
Canta algazarra, cinco da manhã. Vai, levanta, são cinco do final da noite.
E desperta em música, me extingue o alarme. E desperta alarmante, toca o bom dia, vai, volta, tropeça no galho, assovia alaranjado. Desperto no café da manhã puro, amargo no vidro, me adoça o dia, assovio de volta sabe-se lá a quem.
Vai, sabiá-laranjeira, assovia meu sorriso, canta que eu te conto; é amor que não cabe mais em mim.
Leva um pouco, conta também, e extingue esse silêncio alarmante. Canta, vai e voa leve quando ainda é sereno perto da janela. Voa e volta, traga algo que me caiba, traga alguém que adoce a vida. Em qualquer começo de algazarra, num sorriso puro, vem o aviso abafado, os postes imóveis.


Canta qualquer hora à quem sirva essa nossa serenidade.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Lego:.

Separei as peças. Separei uma por uma, por tamanho. Separei aos montes, por cor.
Separei o pó. A caixa antiga. A prateleira.
Separei um lugar vago.

Playmobil sorriu pra mim?

domingo, 17 de agosto de 2008

Com açúcar, com afeto:.

Agosto é mês de se despedir do inverno, de céu azul riscado de vento, daquele ventinho gelado tão bom.
Mês que parece ter vestido um cachecol fofinho.
Se o nome não fosse por causa do tal Augusto, daria até pra arriscar que é um tempo pra fazer tudo conforme sua própria receita, alguma daquelas que vêm com 'açúcar à gosto' no final.
Em agosto é sempre dia de fazer alguma coisa nova, organizar gavetas, fazer real um plano guardado, ler aquele livro, ver aqueles filmes, passear em qualquer rua, qualquer hora, ser mais gentil por nada, ser menos sutil por tudo.

Não tem problema se não der pra entender meu agosto que quer abraçar o mundo.
É só pensar num inverno tardio montando a primavera.

É uma questão de s[e]air feliz por aí.

-auto-falantes: Sixpense None the Richer - There She Goes
Kooks - She Mover In Her Own Way:.

sábado, 16 de agosto de 2008

Segundo:.

"...-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre."

"...Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.

Não que estivesse triste, só não sentia mais nada..."


[De Caio Fernando Abreu em "O dia em que Júpiter encontrou Saturno"]

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Baunilha:.

Sentada na cadeira vermelha, lia um livro de capa de sapatilhas fotografadas e dava uma espiada por cima das folhas. Tentava prestar atenção no que a perguntavam e não conseguia, esperando a fumaça sair de vez do copinho deixado na mesa, esse que não era igual ao da foto no cartaz. Talvez o perfume fosse o mesmo, suave e pouco forte, mas a foto não tinha cheiro, só tinha espuma e creme no copo de vidro. O copo de plástico branco, saído da máquina dos expressos, tava ali se evaporando. Na distração com a história, a conversa e um barulho chato de liquidificador, pensou que era o copo todo que ia embora pra virar nuvem, mas era só o leite do café de baunilha que parecia um espiral girando, rodando e rodando sozinho, num jeito aconchegante de ser espuma. Ainda tinha um fim de esperança na moça do tempo, que prometeu amenidade, deixando que se enganasse e estivesse ali, com arrepios e mangas e calça curtas assistindo o copo fervendo, naquele ar gelado. As mãos também estavam frias, mas não importava por ser coisa sempre comum, independente dos treze ou trinta graus. Pelo menos ninguém perguntara se estava morta, se era esquimó ou se fazia malabarismo com cubos de gelo. Um segundo foi o bastante pra lembrar do que uma senhorinha de olhos claros na rua lhe disse, ao cumprimentar, quando criança e ficou gravado: “mão fria, coração quente. não é?” Enquanto lia o texto precedido por um trecho de música;

Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol.
Gosto muito de você, leãozinho.
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você
No caminho.


Já questionava aquela frase, que nunca saía da cabeça quando apoiava as mãos vazias no rosto e logo se repelia por não suportar a frieza da ponta dos dedos, havia um tempo. Olhou o cinza do lado de fora, o creme sépia desfazendo o calor tão avesso à mão, ensaiando a coragem de tocar a base de plástico desprotegida; mão era fria, sem feriados ou fins de semana, mas quanto ao coração já não estava tão certa. O costume de estar em constante cinnamonmotion - como gosta de chamar seu bem-estar na maioria dos dias - tinha lhe presenteado com uma sutileza imensa, que a deixava leve e dispersa dos melodramas seus e de todos. Quando pensava em coração só lembrava daquele frappuccino, de outro cartaz, que tinha um desenhado na espuma tão parecida com a de seu expresso. Imaginava uma colherzinha desfiando o coração de chantilly que estaria boiando na memória de uma xícara e se deu conta que, se o seu estivesse estampado como aquele e, no lugar da pequena xícara estivesse ela, não haveria colher alguma. Nem de plástico, nem de metal.
Ela não dava colher de chá ao coração. O que tinha consigo era um rastro de romantismo passado, doce que nem aquele nome no seu copo esfumaçado, Vanilla, que só de ouvir falar era delicado. Romantismo passado, dobradinho e guardado numa gaveta de armário, visível apenas a ela quando em um devaneio e outro viu a vida coincidindo com harmonia que parecia sair de um livro de contos, mas não daquele que lia no instante. O amor tinha migrado dali, essa sensação não era recente e a de platonismo, uma colher oxidada, era extinta tal qual o açúcar em seus copos de café.
As mãos geladas foram, devagar, encontrar o copo, hesitantes. Não havia mais fumaça na bebida, nem era embaçado o modo de sentir, o tempo parecia ter amenizado. Fechou o livro depois de ler o final de “Ausência”, distraída pelas frases curtas e, quando sentiu o sabor derretendo aos poucos entre os dentes, aquecendo as mãos ao passear o copo na mesa, dançando com o aroma, teve certeza: quando amasse novamente, faria com que fosse assim.
Teria um sentimento completo, repleto em delicadeza, nitidez, e aconchego. Sabor baunilha.

Tomei aos poucos o expresso, a espuma, me despedindo do copo e guardei o livro, voltei à conversa dos colegas.
Tomei meu rumo, a aula começaria às dez.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Rascunho de anteano:.

Sempre que termino de ler um livro, tento sair caçando detalhes característicos de cada personagem, dou uma boa observada na descrição – embora prefira decifrar a discrição –, até conseguir formar o dito cujo ali dentro da memória (mesmo quando me aparece uma garça cor néon), em pedaços. Então tenho vontade de perguntar ao autor o que ele acha que pensa o personagem, qual seria o próximo passo se não aquele, o que ele pensou naquela fração de segundo em que narrou um suspiro, cadê o motivo, e as partículas de pó que foram levantadas pelo suspiro?
Após espremer peça por peça, canso. Respiro fundo – e sim, partículas de pó voam ao redor, olho devagar acima, o teto branco... Ainda bem que não sou uma história sendo escrita – e volto a pensar, pensar.

Livrada do livro², comecei a encaixar idéias. Umas e outras desconexas fugiram pela janela, desenhadas na fumaça de um incenso doce, doces, e desaparecendo num reflexo de céu que me invadia através do vidro. Outra me apareceu quando quase entristeci por deixar as anteriores escaparem; procurei umas folhas de caderno, de rascunho, de cartão, e acabei com uns rascunhos de quando, nos intervalos de aulas, ia à biblioteca ou ficava num canto alto do pátio olhando a tarde passar, caderno na mão, os papéis soltos dentro dele, jogando uns pensamentos na tinta pra depois ver se alguma coisa fazia sentido.
Rascunhos de faz-tempo ou sem-data, uns versos copiados, uns parágrafos corridos, um romantismo em que quase não me vejo e que aquela garotinha imediatista de corte de cabelo estranho se empenhava em ter sempre um pouco nos bolsos enquanto falava. Tão reticente... Nesses rabiscos reparei numa coragem meio inconseqüente, na eloqüência da minha pressa de criança, narrada pra ninguém.
Ah, ela sim era eu, agosto e agosto atrás.

Em três destes encontrei uma opinião, uma questão e três pontinhos:
- O (ir)real sentido encontrado é algo doado em nós, por nós, e refletido ao redor...
- O cabível é, na maioria das vezes, tão monótono quanto uma idéia profana de aceitação sem questionamento. Já o que nos cabe através das idéias monótonas serem questionadas é imprescindível...
-Escrevo com uma metade-alma, foco nos olhos e me organizo uns sentimentos; absorvendo aos pulmões um tudo afora e fazendo o inverso caber em si do avesso...

Não lembro se isso foi uma reflexão pós-aula, a partir de algum texto, ou se foi coisa de momento cabeça-dura. Talvez nem tenha escrito tudo no mesmo dia-mês, são folhas diferentes.

Dou um refratário cheio de brócolis com queijo branco gratinado pra quem compreender aquilo ali em menos de dez minutos. :)

[¹. Anteontem, sabe? Então, pra mim tem anteano e ante-anteano também. Vale pra ano passado, retrasado, coisa e tal:.]
[². Livro de bolso, “O Diário Roubado” de Régine Deforges. Dessa história eu esperava até menos detalhes descritivos, mas o drama social ao cubo é interessante:.]

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

The Bucket List:.

"Have no fear for givin' in.
Have no fear for giving over.
You better know that in the end
It's better to say too much, than never to say what you need to say again.

Even if your hands are shaking,
And your faith is broken.
Even as the eyes are closin',

Do it with a heart wide open."

[Say (What you need to say) - John Mayer]

Ainda sensibilizada pelo drama “Antes de Partir”, decidi pôr uns comentários aqui.

Achei o roteiro um tanto previsível, a mensagem comum, os personagens um pouco menos detalhados do que eu esperava... Porém, se
Justin Zackham o escreveu tendo como objetivo, além do entretenimento, fazer refletir, valorizar, pensar um pouquinho, nem que por um segundo, numa sala de cinema escura ou mesmo na poltrona, o fez com precisão.

“The Bucket List”, nome original, segue a linha fictícia da maioria dos filmes enquanto propõe pausas de questionamento existencial, válidas a qualquer que se permita uma pequena avaliação. Nos pontos fantasiosos ficam os acontecimentos premeditados com suas conseqüências não menos esperadas, estes que na lista inicial do Carter (Morgan Freeman) são até, eu diria, pedestres freqüentes de quem assiste. O lugar pra se perder – ou melhor, pra se encontrar – fica por conta da pergunta clara e de bom slogan: você já encontrou sua felicidade? Que, dependendo da opinião de cada, abre um leque de possibilidades de uma simplicidade mirabolante (contraditória sim, por que não?), rondando entre o que você poderia fazer pra perceber que sua busca só termina no instante em que percebe a presença do que procura numa linha de tempo constante que só é vista com um esforço a mais e a preocupação em encontrar o seu algo.
Já o bônus do dvd, um clipe com a música do trecho postado ali, só estabelece ainda mais a ligação entre necessidade e busca do quase irremediável vazio dos cantos, rotina afora. “Say what you have to say" – and get your peace, your anything.

Agora, com os olhos já secos e menos rudolph-rena-de-nariz-vermelho, paro por aqui, revisando e extraindo aos poucos um pouco de tudo que vi.




quinta-feira, 31 de julho de 2008

A causa do acaso:.

Se existe, pra mim, algo tão agradável quanto à porção de coisas que fazem a vida mais doce, são as surpresas. Não falo de um cataclismo emocional, e sim dos bons ventos que vêm graciosos, sem pretensão qualquer, trazendo um abraço calmo e aconchegante num segundo em que me encontro em outra freqüência, outra paz que não via pendurada na etiqueta da camiseta.

Quando for registrar minhas peculiaridades no espaço dos pontos discretos, no vão da escadinha de linhas que sempre me chama, vou contar: na extensão das horas, sem querer, fiz pessoas rirem por um pensamento que me surgiu, disseram que sempre que me vêem eu to sorrindo feliz, fiz sujeira com açúcar derrubado no chão e, quando anoiteceu achei que era hora de desacelerar meus motores de detalhes.

Ganhei um abraço, em palavras nem um pouco parecidas com a própria a-bra-ço, mas bastante bacanas pra eu relatar as delicadezas gentis que de vez em quando passam olhando e refletindo as marolas contínuas do que é bonito e nem sempre dou atenção.

Pode ter sido o açúcar - apesar de que certamente foi o conjunto de pequenos presentes -, o motivo com jeito de caleidoscópio que me deixa deveras contente.

Sei que é doce o bem que me faz bem.
[descobri, por acaso, como habilitar comentários, que beleza!]

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Sobre plantas e lixo, ou não:.

Logo de manhã uma música invadiu meu repeat mental. Ainda não sabia porque.

Eu saí cedo. Não o cedo em que eu deveria ter saído. Era cedo ali, fora de mim, na calçada do meu sentido direito, nos meus tênis brancos brincando que eram camaleões no cimento sujo. Era cedo demais na semana, pra que eu me atrasasse e acabasse perdendo qualquer coisa, um cronograma, uma matéria nova, uma piada velha. Eu considerava tudo no caminho amanhecido, na poeira das construções na avenida, cedo. O que eu não queria era chegar tarde demais. Sentia o medo de perder, um que não me visitava há um longo período, vir me assaltar a calma, apressar novamente as horas.

Cheguei querendo rapidez e logo quase me perdi no quadro de horários. O horário sempre muda, aliás, alguém sempre muda o horário. O Conselho sempre muda. Ninguém que estuda lá conhece o Conselho, viu ou recebeu alguma dica dele. Ninguém que estuda lá sabe que o conhece. Mas ele foi só outro de meus apesares, outra palavra que me inventei pra apontar qualquer discrição que me valha. Tropeçando, como sempre, nas idéias, fui procurando a sala, lembro que pensei coisas boas e tive vontade de registrar. A vontade ficou. O tempo continuava passando, apesar do que eu queria ali: sentar no chão e com a caneta preta que sempre anda comigo me dividir, folha a folha. Não o fiz porque provavelmente não iria dividir com mais ninguém e as folhas, abandonadas num caderno fosforescente, eu deixaria de lado e tocaria os minutos pra frente, a ponto de não reconhecer aquelas letras horas depois.

Já na sala, a aula dupla havia sido meia, fomos dispensados. Pensei em voltar ao corredor e até sentar no chão pra tentar reaver minhas vontades indisponíveis, mas era perda de tempo.

Quando parei fui perceber que apenas por querer ganhar meu tempo, desperdicei o que tinha em mim, digeri uma opinião, o tempo e duas horas.


Agora testo uma volta à um hábito antigo, de deixar estar a tranquilidade, voltar a andar mais devagar. Como provei há três dias ao tropeçar numa escadinha: não passo do chão e a pressa ansiosa só atrapalha, fazendo com que eu não me alcance, faz dançar fora do ritmo.

Logo de manhã uma música invadiu meu repeat mental. Agora sei porque.

Eu Me Acerto - Zélia Duncan

Não pensa mais nada
No final dá tudo certo de algum jeito
Eu me acerto, eu tropeço
E não passo do chão
Pode ir que eu aguento, eu suporto a colisão
Da verdade na contramão
Eu sobrevivo
E atinjo algum ponto
Eu me apronto pro dia seguinte
Escovo os dentes
Abro a porta da frente
Evito a foto sobre a mesa
E ninguém aqui vai notar
Que eu jamais serei a mesma

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Ciano:.

Ilumino.
Apago.
- vagalume à cabo.
acabo.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Música:.

Dica:

- Kate Nash - Nicest Thing
- Feist - Past in Present
- Katrina and the Waves - Walking on Sunshine
- Regina Spektor - Hotel Song
- Jonatha Brooke - Because I Told You So
- Keren Ann - Lay Your Head Down
- The Magic Numbers - Let Somebody In
- Suzana Flag - Boas Novas
- Ludov*) - Refúgio (e todas as outras)
- Coldplay - The Scientist

Ouça e procure mais sobre o que mais gostar.
É só coisa boa.